O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), utilizou uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar de Brasília a São Paulo em 26 de março de 2025, véspera da final do Campeonato Paulista entre Corinthians e Palmeiras. A viagem, justificada por razões de segurança, teve Moraes como único passageiro, conforme registros da FAB. No dia seguinte, 27 de março, ele assistiu à partida na Neo Química Arena, onde o Corinthians, seu time de coração, conquistou o título ao empatar em 0 a 0 com o Palmeiras, após vencer o jogo de ida por 1 a 0.
Moraes deixou Brasília horas após participar da sessão da Primeira Turma do STF que tornou réus Jair Bolsonaro e outros sete acusados por tentativa de golpe de Estado em 2022. Na sexta-feira, 28 de março, ele participou de um seminário em São Paulo sobre democracia e Ministério Público. O uso da aeronave foi confirmado por fontes próximas à sua agenda, mas o STF, a FAB e o Ministério da Defesa não comentaram oficialmente. Imagens nas redes sociais mostram Moraes no estádio com a camisa do Corinthians, ao lado da esposa, Viviane Barci, e do ministro Flávio Dino.
O caso gerou debate sobre o uso de recursos públicos. Especialistas, como Bruno Morassutti, da Fiquem Sabendo, criticaram a viagem, argumentando que, apesar do direito à vida privada, ministros do STF devem refletir a expectativa social sobre o uso adequado de bens públicos. Desde os atos de 8 de janeiro de 2023, o STF intensificou medidas de segurança, e uma decisão do TCU de abril de 2024 permite sigilo em voos da FAB por autoridades, o que dificulta a transparência sobre esses deslocamentos.
A prática não é inédita. Antes de 2023, apenas o presidente do STF tinha direito a voos oficiais, mas, após os ataques às sedes dos Três Poderes, ministros passaram a usar aeronaves da FAB com mais frequência, amparados pelo decreto nº 10.267/2020. A presença de Moraes no jogo, com mais de 48 mil torcedores, foi celebrada por alguns, mas criticada por outros, como a Gaviões da Fiel, que repudiou sua aparição com a camisa do clube.
Bolsonaro e aliados, como o deputado Nikolas Ferreira, aproveitaram o episódio para questionar Moraes, sugerindo privilégios indevidos.
Enquanto isso, a assessoria de Dino, que também esteve no estádio, negou que ele tenha usado a FAB, reforçando que a viagem de Moraes foi um caso isolado sob justificativa de segurança. O episódio reacende discussões sobre os limites entre segurança institucional e uso pessoal de recursos públicos por autoridades.
