O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), teria pedido a líderes partidários que não assinassem o requerimento de urgência para o projeto de lei que prevê anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. A informação circula em meio a uma intensa pressão da oposição, liderada pelo PL, para acelerar a tramitação da proposta, que poderia beneficiar condenados e investigados, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Motta, segundo relatos, busca evitar um confronto direto com o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF), que têm se posicionado contra a anistia.
A estratégia de Motta seria uma tentativa de manter a estabilidade política e evitar desgastes com o Executivo e o Judiciário, especialmente em um momento em que o STF julga questões sensíveis, como o inquérito sobre tentativa de golpe. O PL, por sua vez, afirma contar com apoio de pelo menos sete partidos — como União Brasil, PP, Republicanos, Novo, Podemos e PSDB — e estima ter mais de 300 votos favoráveis no plenário. O líder do partido, Sóstenes Cavalcante (RJ), planejava apresentar o pedido de urgência nesta semana, mas a intervenção de Motta pode atrasar esses planos.
A resistência do presidente da Câmara reflete uma avaliação de que pautar a anistia agora seria arriscado, tanto pela falta de consenso entre os líderes quanto pelo potencial de crise institucional. Em conversas reservadas, aliados de Motta indicam que ele considera a chance de levar o projeto ao plenário como "zero" no momento, priorizando pautas menos conflituosas. Enquanto isso, a oposição ameaça obstruir votações no Congresso, como a do projeto de reciprocidade comercial, para forçar uma decisão.
O embate expõe a divisão na Câmara: de um lado, o PL e aliados pressionam pela anistia, vendo-a como uma forma de aliviar a situação de réus do 8 de janeiro; de outro, a base governista, liderada pelo PT, rejeita a proposta, argumentando que ela legitima atos antidemocráticos. Motta, que assumiu a presidência com apoio de ambos os lados, tenta navegar entre esses polos, mas sua postura sugere um alinhamento maior com a cautela institucional.
O desfecho depende de como Motta conduzirá as próximas reuniões com o Colégio de Líderes.
Se ceder à pressão da oposição, a urgência pode ser votada em breve; caso contrário, o projeto deve permanecer travado, possivelmente em uma comissão especial ainda não instalada. Por ora, a sinalização é de que ele prefere adiar o debate, apostando que o tema perca força com o tempo.