Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal e filiado ao União Brasil-AP, tem demonstrado resistência em pautar o projeto de lei que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele sinalizou a parlamentares de diferentes espectros políticos que o tema não é prioridade para o ano legislativo de 2025. Alcolumbre argumenta que o foco do Congresso deve estar em questões que promovam a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, evitando debates que possam reacender divisões na sociedade. Essa postura foi reforçada após sua eleição para a presidência do Senado, com amplo apoio que incluiu tanto o PL de Bolsonaro quanto o PT de Lula.
A resistência de Alcolumbre à anistia contrasta com a pressão exercida por Jair Bolsonaro e seus aliados, que veem a proposta como uma bandeira central para libertar os condenados pelos atos golpistas e, potencialmente, reverter a inelegibilidade do ex-presidente. Apesar disso, o senador já declarou que o perdão irrestrito não é a solução para pacificar o país, sugerindo que qualquer discussão sobre o tema deveria ser modulada, analisando casos específicos em vez de aplicar uma anistia ampla. Ele também destacou que as penas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos participantes dos atos, embora consideradas duras por alguns, estão sendo tratadas dentro do Judiciário, e que o Senado não deve interferir diretamente nesse processo.
Senadores da oposição, especialmente do PL, acreditam que a aprovação do projeto na Câmara dos Deputados, liderada por Hugo Motta do Republicanos-PB, poderia alterar a posição de Alcolumbre. Eles argumentam que um placar favorável na Câmara aumentaria a pressão para que o Senado coloque o tema em votação, mesmo contra a vontade inicial do presidente da Casa. No entanto, aliados de Alcolumbre afirmam que ele não vê apoio suficiente entre os senadores para aprovar a anistia, estimando que os votos necessários não seriam alcançados no momento. Essa percepção é compartilhada por governistas, que consideram a proposta fora da ordem do dia e sem respaldo popular para avançar.
A estratégia de Alcolumbre parece ser manter o Senado focado em pautas de consenso, evitando polêmicas que possam desgastar sua gestão ou tensionar a relação com outros poderes, como o STF. Ele já indicou em entrevistas que o Congresso deve discutir "problemas reais" do Brasil, como pobreza e desenvolvimento, em vez de temas que gerem discórdia. Enquanto isso, a articulação de Bolsonaro concentra-se em Hugo Motta na Câmara, com a expectativa de que o projeto avance ali primeiro.
Caso isso ocorra, o embate no Senado será inevitável, mas a resistência inicial de Alcolumbre sugere que ele buscará adiar ou limitar o debate, mantendo o controle sobre a agenda legislativa da Casa.