O presidente Lula estuda nomear Arthur Lira para um ministério, numa jogada política para garantir apoio no Congresso. O cargo ventilado seria o Ministério da Agricultura, estratégico para atrair o agronegócio. A movimentação, no entanto, gerou reações dentro do próprio partido de Lira, o PP. A proposta mostra o grau de dependência do governo para garantir estabilidade política. Lula tenta ampliar sua base aliando-se até a nomes que antes criticava duramente.
A possível nomeação de Lira escancararia a incoerência de um governo que se dizia "ético" e "republicano". A esquerda, que por anos chamou Lira de símbolo do “centrão fisiológico”, agora parece disposta a tudo para manter o poder. Essa aproximação revela que o discurso da “nova política” era apenas retórica de campanha. Para Lula, manter a governabilidade parece mais importante do que qualquer coerência ideológica. E a velha política segue firme e forte.
Dentro do PP, o nome de Lira para ministro divide opiniões. O senador Ciro Nogueira, presidente da sigla, já se posicionou contra a ideia. Para ele, a ida de Lira para o governo petista prejudicaria a imagem do partido junto ao eleitorado conservador. Líderes do agro também demonstram receio, já que Lira é visto mais como articulador político do que gestor técnico. A pressão interna pode acabar minando a articulação de Lula.
Arthur Lira ainda não se comprometeu oficialmente. Ele disse que quer terminar seu mandato na presidência da Câmara com "sensação de dever cumprido". No entanto, aliados admitem que Lira avalia os impactos políticos da decisão, especialmente com vistas à eleição para o Senado em 2026. Sua aproximação com o governo Lula pode ser malvista por eleitores de direita. Entrar no governo agora pode ser um risco político para sua carreira.
O governo Lula, por sua vez, aposta alto na costura com o centrão para aprovar pautas impopulares, como o novo arcabouço fiscal e as taxações no agronegócio. A entrada de Lira num ministério visa neutralizar a oposição dentro do Congresso. Mas também reforça a percepção de um governo cada vez mais dependente de acordos fisiológicos. A base ideológica do PT já começa a reclamar da guinada pragmática de Lula.
No fim das contas, a possível nomeação de Lira expõe as contradições e fragilidades do atual governo. Lula, que prometia romper com o “toma lá, dá cá”, agora tenta se segurar no cargo com o mesmo método que criticava. O eleitor que acreditou na promessa de ética na política assiste, mais uma vez, à velha história se repetir. Se confirmada, a aliança com Lira será mais um capítulo do estelionato eleitoral petista.