Os arquivos secretos sobre o assassinato de John F. Kennedy, liberados pelo governo dos Estados Unidos sob ordem do presidente Donald Trump em 2025, mencionam o Brasil em meio a mais de 64 mil documentos desclassificados. Esses registros, disponibilizados pelos Arquivos Nacionais americanos, incluem relatórios da CIA e outras agências que contextualizam a Guerra Fria e a influência de países como Cuba e China na América Latina.
O Brasil aparece em documentos que discutem a política regional nos anos 1960, especialmente em relação ao governo de João Goulart, que foi deposto pelo golpe militar de 1964. A conexão direta com o assassinato de Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, não é explícita, mas os arquivos refletem o interesse americano na estabilidade política brasileira.
Um dos documentos destacados é um telegrama da CIA de 1961, que relata que Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, teria recebido uma oferta de apoio material e voluntários de Mao Tsé-Tung, líder da China, e Fidel Castro, de Cuba.
Segundo o registro, Brizola recusou a ajuda, temendo uma intervenção dos Estados Unidos, o que indica o monitoramento americano sobre possíveis avanços comunistas no Brasil. Outro relatório, de julho de 1964, após o golpe, descreve a derrubada de Goulart como uma derrota para os planos cubanos na América Latina, mas não detalha envolvimento direto com o assassinato de Kennedy. Esses documentos sugerem que o Brasil era visto como peça-chave no tabuleiro geopolítico da época.
Os arquivos também mencionam ações de propaganda da CIA no Brasil, como tentativas de enfraquecer um encontro da Federação Sindical Unificada para a América Latina, previsto para 1964 no Rio de Janeiro, que poderia fortalecer sindicatos alinhados a Cuba e China.
A agência planejava divulgar informações negativas sobre as condições de trabalho nesses países para minar o evento, evidenciando o esforço americano em conter a influência comunista na região. Embora esses registros citem o Brasil, historiadores que analisaram os lotes liberados até agora afirmam que não há evidências de que o assassinato de Kennedy esteja diretamente ligado aos eventos brasileiros, mas sim que os documentos refletem o clima de tensão da Guerra Fria.
A liberação desses arquivos reacendeu especulações sobre o golpe de 1964 e o papel dos Estados Unidos na América Latina, mas não trouxe revelações bombásticas sobre o assassinato de Kennedy em si.
A menção ao Brasil está mais associada ao contexto de vigilância americana sobre movimentos de esquerda do que a uma conexão causal com a morte do presidente. Especialistas sugerem que os documentos reforçam o que já se sabia sobre a Operação Brother Sam, na qual os EUA ofereceram apoio logístico ao golpe brasileiro, mas não confirmam teorias de conspiração que vinculem diretamente Kennedy ao Brasil. Assim, as citações ao país permanecem como parte de um quadro mais amplo da política internacional dos anos 1960.