Confira a carta completa:
Salve, ministro. É uma satisfação escrever pro senhor, ilustre doutor que eu tenho no mais alto conceito. O bonde agradece sua contribuição inestimável durante a pandemia.
Enquanto certos juristas diziam que Covid não era habeas corpus, vossa excelência teve sensibilidade com a classe criminosa e fez a coisa certa. Desencarcerou geral com habeas corpus coletivo. Obrigado por nos ressocializar. Obrigado por salvar vidas.
Aliás, muito obrigado por não diferenciar a vida bandida da vida civil. No fundo, no fundo, todo mundo sabe que não é a pessoa que escolhe o crime, mas o crime que escolhe a pessoa. A gente não tem culpa.
Mas como eu sei que o senhor é diferenciado, ministro Fachin, me permita uma crítica construtiva com a experiência de quem vive na marginalidade há muitos anos. Eu li todas as suas sugestões para reduzir a letalidade policial nas comunidades dominadas por meus colegas aqui no Rio de Janeiro.
Concordo, eu assino embaixo de todas elas. Mas com toda vênia, ministro, o que o senhor propõe é simplesmente enxugar gelo. O que a gente precisa é acabar de vez com o problema. É cortar o mal pela raiz.
Olha só que absurdo! A polícia sobe o nosso morro, apreende os nossos fuzis, as nossas granadas, todo o nosso armamento. Sai confiscando os nossos produtos importados da melhor qualidade. Leva até as nossas motos. Reage atirando de volta quando a gente abre fogo, e pra completar, tem vezes que não morre um policial sequer, “nenhumzinho”.
Isso parece justo pro senhor? E a imprensa… a imprensa, ministro, não ajuda em nada. Ao invés de eles falarem que morreram vinte inocentes, eles dizem que morreram vinte pessoas. Aí a população fica confusa e não fecha com a gente. Seu Fachin, o seu objetivo e o nosso é o mesmo.