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Queridinho da mídia, Serra conseguiu se blindar contra suspeitas de corrupção.





Um ranking dos políticos mais corruptos da Lava Jato colocaria o senador José Serra (PSDB-SP) entre os 10 mais da tabela. Serra foi de A a Z nas suspeitas de crimes: é suspeito de ter recebido R$ 52,3 milhões da Odebrecht, tem conta atribuída a ele na Suíça, é investigado por recursos de caixa 2 para campanhas eleitorais, é acusado de ter usado empresas fora do Brasil em nome da filha, Verônica, e, segundo uma nova delação, embolsou R$ 5 milhões da Qualicorp em 2014, quando a Lava Jato já estava nas ruas (a operação começou em março daquele ano).

O fardo é pesado, mas o senador era tratado pela mídia até dias atrás como um técnico, dando opiniões sobre reforma tributária, covid-19. Um status muito diferente do que Lula, Eduardo Cunha e Antonio Palocci obtiveram, submetidos ao ostracismo depois que apareceram suspeitas de corrupção contra eles.

O que Serra tem que Lula não tem?

Serra foi o melhor ministro da Saúde na história brasileira, pelos seguintes motivos. Bateu corajosamente de frente com a indústria farmacêutica, criando os remédios genéricos, que baratearam radicalmente o custo de medicamentos para a população. Implantou a política de tratamento integral para o vírus HIV. Desenvolveu política de restrição ao cigarro, que salvou milhares de vidas.

A obsessão de Serra com metas criou para ele a imagem de administrador moderno, que faz “follow up” como se faz na iniciativa privada. Tornou-se um político “diferenciado”, como se diz em Higienópolis, bairro tido como ninho dos tucanos em São Paulo. Na Lava Jato, Serra pode ser igual a Lula, Palocci ou Cunha, mas isso nunca chegou à mídia porque o senador é considerado de outra estirpe.

Há duas semanas, quando a Polícia Federal fez buscas em imóveis de Serra, a Globonews lembrava que ele era reconhecido com um “grande gestor público”.

E daí? A investigação é caixa 2 em campanhas, não uma avaliação das administrações de José Serra. Havia suspeita de que Serra e sua filha, Verônica, operem contas fora do Brasil com dinheiro recebido da Odebrecht.

 O raciocínio que ressalta o “grande gestor” é similar ao dos petistas que, sempre que se deparam com acusações ou suspeitas de corrupção contra Lula, dizem que ele foi o melhor presidente da República, que tirou da miséria 30 milhões de pessoas. E daí? A acusação desta vez é criminal, não de avaliação da gestão petista.

Essas defesas lembram a máxima que grudou em Paulo Maluf, a do “rouba, mas faz”.

Serra teve sob sua administração no Governo de São Paulo, de 2007 a 2010, o símbolo-mor da corrupção do PSDB, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, preconceituosamente apelidado de Paulo Preto. Está certo que Vieira de Souza servia a 2 senhores, segundo as investigações da Lava Jato (Aloysio Nunes Ferreira e Serra, indiretamente). Tanto Serra quanto Aloysio dizem que não tiveram relação com os supostos desvios de Vieira de Souza. O senador também nega que tenha recebido recursos ilícitos da Odebrecht e da Qualicorp.

A passagem de Serra pelo governo paulista é mais lembrada pelos escândalos de corrupção na Dersa, a estatal de estradas, no Metrô e em grandes obras como a reforma da Marginal do que pela suposta eficiência. Serra parecia estar com a cabeça na candidatura à Presidência em 2010, na qual acabou derrotado por Lula.

O senador construiu a relação com a mídia com o mesmo afinco que acordava assessores às 5 da manhã para saber se uma obra num hospital em Roraima estava com o cronograma em dia. Conhece e se relaciona com os donos dos principais jornais e TVs, com colunistas, editores. Nada de anormal nessa relação.

O caso mais famoso era a proximidade de Serra tinha com a família Frias, proprietária do jornal Folha de S.Paulo. Serra trabalhou na Folha como editorialista ao voltar do exílio, em 1978 e, tenho a impressão, percebeu logo cedo a importância da mídia na criação da imagem de um político.

A esquerda adora pegar no pé da Folha, alegando que essa amizade com os Frias serviu como dique para o jornal brecar investigações contra Serra. Nunca vi nada demais na proximidade entre eles. Presenciei a irritação de Otavio Frias Filho, que foi o diretor de Redação do jornal de 1984 até sua morte, em 2018, numa ligação de Serra, na qual o jornalista tamborilou por uns 10 minutos os dedos na mesa, num misto de impaciência e fúria pelo abuso do amigo.

É óbvio que essa intimidade não ocorria só com a Folha. Serra é (ou era) o queridinho da mídia. Tinhas ótimas relações com grupo Globo, O Estado de S. Paulo e Valor Econômico.

O problema ético é que Serra usa essa proximidade para aterrorizar ou pedir a cabeça de quem não seguia a cartilha do Serra “grande gestor”. O social-democrata na vida pública se comportava como um senhor de engenho quando a questão era a sua imagem na mídia. Carteirada era a norma.

Se as TVs, os jornais e sites quiserem dar um passo adiante na discussão ética, vão ter de largar no meio do caminho os seus favoritos. A vida privada da mídia é cada vez mais um assunto de interesse público.

Com Informações: Poder 360
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